Se fosse combinado não iria dar certo. Bem no dia da estréia
de “Batman:
O Cavaleiro das Trevas Ressurge” e justo na mesma época em que a Warner
começou a soltar o trailer de “Gangster Squad”, que mostra um
grupo de gangsteres abrindo fogo contra o público de um cinema, um atirador
(afinal de contas é branco e cristão. Se fosse muçulmano seria chamado de
terrorista) resolve brincar de “Tiros em Columbine” dentro de um
cinema em Aurora no Colorado. Pior que isso só se ele abrisse
fogo dentro do Kodak Theater no meio do discurso do Michael Moore. Não to aqui para discutir a influência dos filmes em
casos assim (como se a venda livre de
armas e a cultura norte-americana não fossem combustível suficiente). Meu
intuito é mostrar sessões de cinema DENTRO
DOS FILMES que também foram arruinadas, não necessariamente de forma
trágica (algumas vezes foi até engraçada). Olha só, bambino:
Bastardos Inglórios (de Quentin Tarantino; 2009)
Shoshana em chamas |
Um monte de gente deve ter se lembrado desse filme quando
ouvir falar da tragédia de Colorado. Mas ao contrário da chacina de fora da
telona, no caso desse filme, o público não era de inocentes não. Um monte de
ovos podres nazistas foram postos na mesma cesta para serem destruídos sem dó
nem piedade. Até porque foi uma armadilha dupla: Quem não morresse na bala dos
bastardos inglórios, morreria na armadilha provocada pela proprietária do
cinema, que aparece toda pimpona com o rosto em close na tela do cinema,
gargalhando fervorosamente da cara dos nazis e do Adolfão Bigode de Priquita.
A casa dos maus espíritos (de William Castle;1959)
Não parece, mas a nonna de muito ragazzo lá dos EUA cagou nas calças nesse dia |
William Castle é
um diretor do tipo que a gente não vê mais hoje em dia. Sem orçamento para
fazer filmes grandiosos, Castle tinha que gastar toda a sua criatividade na
hora de promover suas obras. Em “A casa...” em determinado momento do filme, um
esqueleto (daqueles que tem na escola e tal) dava um vôo rasante por sobre as
pessoas na platéia. Hoje em dia ninguém teria medo de uma coisa dessas, mas
imagina em 1959! Melhor que o 3D do “Resident Evil 4”, meus queridos!
William ainda usou desse tipo de truque para promover vários de seus filmes, como Força Diabólica e
inspirou um filme do qual eu falo a seguir. Veja abaixo como o povo reage a um "esqueleto voando" nos dias de hoje:
Matinê: Uma sessão muito louca! (de Joe Dante;1993)
É para parecer uma pata de formiga, entende? |
Além do personagem principal (um produtor de cinema
amalucado interpretado por John Goodman)
ser inspirado em
William Castle, um acontecimento histórico daquela época
serviria de catalizador para os medos dos espectadores de cinema neste filme: A Crise dos Mísseis de 1961. Foi o
momento em que TODO MUNDO ficou com o
fiofó na mão achando que mais cedo ou mais tarde ou os americanos ou os russos
apertariam um botãozinho e o universo iria todo estremecer (proj. Patrícia
Marx). Esse clima de tensão além de ter servido de inspiração para
vários filmes (como “Blast from the past” e “X-Men: First Class”), também serviu
para potencializar os sustos que o John Goodman dava em seu público com o seu “MANT!
– O Homem-Formiga”. Três anos antes, Joe Dante já tinha mostrado uma sessão de cinema sendo interrompida
no meio, só que de forma mais metalingüística.
Gremilins 2: A nova geração (de Joe Dante;1990)
I'm too sexy for my shirt, too sexy for my shirt... |
Desse todo mundo deve se lembrar. Os Gremilins tomavam de assalto uma cidade grande e interrompiam a exibição de seu próprio filme,
colocando no lugar um filme em preto-e-branco (fazendo aquilo que os entendidos
chamam de “Quebrar a quarta parede”,
lembrar os espectadores de que estão vendo um filme). Quem era chamado para
botar ordem na casa era o Hulk Hogan,
em uma performance tão sensacional quanto a que ele fez em “Rocky III”. Se o nosso
herói tivesse lá naquela sessão de cinema no Colorado, nada disso teria
acontecido.
Na versão em VHS
deste filme, a película era interrompida e no lugar passava um trecho de um
filme do John Wayne. Muita gente não
entendeu a piada e devolveu a fita achando que estava com defeito. Quem quis
trocar por outro exemplar do filme, deve ter passado mais raiva ao descobrir
que a nova cópia também apresentava o mesmo defeito.
Imagem do blog La Dolce Vita |
Pânico 2 (de Wes Craven;1997)
O quê esse povo não faz para promover um filme! |
Também lembrado de forma bizarra após o incidente no
Colorado. Neste caso a coincidência é mais macabra, pois temos também um maluco
fantasiado como um personagem do filme em cartaz e que resolve apavorar uma
sessão de cinema, só que desta vez usando uma faca em vez de armas de fogo.
Essa cena foi até parodiada em “Todo mundo em pânico 2”
O mais bisonho é que no filme muita gente nem dá bola para a menina e muito menos consegue identificar o assassino porque todo mundo está com a mesma máscara e uma "faca". Tudo para promover o filme assim como fazia...William Castle! Acho que nem o Castle
fazia idéia de como suas estratégias de marketing fariam tanto sucesso tanto
depois de sua morte. Para o bem e para o mal.
Fontes:
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