quinta-feira, 14 de março de 2013

(2011)”Habemus Papam”: O Papa é um grande ator de teatro.

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Poccas vezes vimos uno filme se encaixar tão bem com uma situação quanto esse “Habemus Papam” do, agora visionário e que non deve estar cabendo dentro de si, Nanni Moretti. Eu preferia estar escrevendo sobre “O Poderosos Chefão III” em que o Vaticano tem uno papel importante na história, mas non tem como ignorar uno filme tão profético quanto esse, em que uno Papa, em crise, renuncia ao cargo. Quem imaginaria em 2011 que isso non ficaria apenas na ficção...


Quem lê a respeito desse filme e vê lá “comédia” pode se frustrar uno pocco ao asistí-lo, pois por ser uno filme italiano, muitos vão pensar que se trata de una comédia pastelão, bastante física como são os filmes de Roberto Benigni (que já encheu o saco do padre Walter Matthau em “O Pequeno Diabo”). Non é. A “graça” do filme vem de sua situação absurda: Uno cardeal chamado Melville, eleito Papa, após a morte do antigo titular da vaga, tem una crise nervosa e non consegue assumir o Pontificado e para tratá-lo é convocado uno psiquiatra ATEU. Imagina a cena.

É incrível como o ator Enrico Ianello, que faz papel de jornalista é a cara do PVC da ESPN

Massimo Verdastro, que faz papel de vaticanista, é a cara do Luís Alvaro, Presidente do Santos FC 
Certa vez alguém disse que a diferença entre una comédia e uno drama é a distância que mantemos da situação. Ver alguém cair na rua é engraçado quando non é nossa mama, nosso pai ou nós mesmos. Assim também é esse “Habemus...”. Quando começa o filme nossa primeira motivação é a de rir de tudo, afinal non é sempre que uno Papa arrega e foge igual a Xuxa criança na abertura de “Lua de Cristal” bem na hora de fazer seu primeiro discurso ao público.


Duas cenas exemplificam a graça dessa primeira parte do filme: Una é a da câmera mostrando os rostos dos cardeais uno por uno e cada uno pensando "Que não seja eu o escolhido, pelo amor de Deus! Não me escolham!". 

"Eu não! Eu não sirvo para isso!"
Otra é a de uno grupo de cardeais querendo sair do Vaticano para “bater perna por Roma, visitar os pontos turísticos da cidade, comer e tal”, afinal de contas “já fizemos nossa parte e votamos no cardeal, agora é com vocês”.

"Tem una exposição ótima na cidade! É do Caravaggio!"
Como é de praxe, nosso psiquiatra quer ficar a sós com o Papa: non pode, a consulta é pública e na frente dos demais cardeais. Pergunta sobre a mãe do Papa: non pode. Pergunta como foi a infância do Papa: non pode. Pergunta o nome do Papa: non pode, tem que chamá-lo de Sua Santidade, pois seu nome non foi revelado ao público e assim deve ser até o momento em que ele se apresentar na sacada da Basílica de São Pedro. O doutor quer voltar outro dia, pois tem otros pacientes com consulta marcada: non pode, tem que ficar recluso até o Papa se curar. O negócio é puxado!


Com muita insistência, o psiquiatra consegue que o Papa, incógnito, vá se consultar com sua ex-mulher, também psiquiatra, quase tão boa quanto ele, mas com uma incrível obsessão por "negligência parental". Qualquer problema de seus pacientes ela diagnostica como negligência parental. O Papa, que non se identifica como tal, diz a ela que é “uno ator de teatro”, mas que nunca conseguiu se realizar porque sua irmã interpretava melhor que ele. Adivinha o diagnóstico? “Seus pais davam mais atenção à sua irmã do que a você”. Bingo!

Lucimara Parisi: "É negligência parental, tenho certeza!"
Na volta do consultório, o Papa despista seu acompanhante e some pelas ruas de Roma. Anda livremente pelas ruas, pega ônibus, se hospeda em uno hotel, encontra una companhia de teatro, se mistura a eles (pois conhece as peças de Tchekov de cor, afinal sua irmã encenou várias delas), enfim cosas que ele nunca pôde fazer quando era cardeal e que eleito Papa, nunca mais fará.
Essa parte do filme me lembrou uno pocco a peça de teatro “O Papa e a Bruxa”, obra italiana de Dario Fo, que no Brasil foi adaptada pelo grupo “Parlapatões” (leia mais sobre a peça aqui), mas o enredo é diferente.

Hugo Possolo: Melhor Papa
Sem que o psiquiatra saiba que o Papa está ausente e sem ter mais contato com o Sumo Pontíficie (a artimanha usada para iludir a todos de que o Papa está presente, é simplesmente sensacional), ele resolve dividir os cardeais em vários times e organizar uno jogo de vôlei entre eles. “Por que vôlei e non futebol?” Repara no Nanni Moretti, que além de diretor e ator principal é uno dos roteiristas e me diz: Uno sujeito com a altura dele tem mais intimidade com vôlei ou com futebol?


Tirando as cenas dos cardeais jogando vôlei (separados por continentes de origem: Time Africano, Time SulAmericano, Time do Leste Europeu... com direito a uma torcida de freiras muito empolgadas) a partir deste momento em que ficamos mais íntimos do Papa e entendemos suas motivações, o filme toma um ar mais dramático, como são de fato os filmes do Nanni Moretti, comédias com uno tom mais dramático, que divertem, mas non são escrachadas e possuem uno toque mais humanizado e mesmo sério em muitos momentos.


Mas nenhum momento é mais sério do que o discurso final do Papa eleito. “Ah! Mas você ta contando o final do filme”, ora desde que Bento XVI renunciou que todo mundo ficou sabendo o final desse filme (que é de dois anos atrás, non é novo). O Nanni já cansou de dar entrevista a respeito disso durante o ano e além do mais, o fato de você saber de antemão o final desse filme não tira a vontade de assisti-lo a menos que você non curta esse tipo de filme mais “europeu” e menos “esculhambado”.


Enfim esse discurso resume bem a mensagem do filme: Antes de ser uno Papa, o Sumo Sacerdote é uno ator de teatro e antes disso, humano, falível e inseguro, bem diferente do que se espera do Pontífice Máximo da Igreja Católica. O atual Papa Emérito desistiu do cargo, agora esse argentino eu duvido que desista. Afinal que argentino que iria admitir que é falível? Aliás, desde quando que argentino é humano?

BATIZARAM A ÁGUA DE D. ODILO SCHERER!
(Habemus Papam, Itália, 2011) De Nanni Moretti. Com Michel Piccoli, Nanni Moretti, Jerzy Stuhr, Franco Graziosi, Camillo Milli, Ulrich von Dobschütz, Margherita Buy, Riccardo Sinibaldi.

Preferia esse Papa aqui: ROCKO!




Cotação:

7/10 cabeças de cavalo - Melhor que ver o Datena narrando o conclave

Fontes:






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