(1985)"Pedro Mico" - Era melhor NÃO ter ido ver o filme do Pelé
Quem acompanha esta Maratona pode achar que ja viu o pior filme dele, afinal, todos os filmes que vimos tinham nosso ídolo como argumentista, além de ator. Pois bem, no pior filme nacional de sua carreira, Pelénon é o argumentista, nem mesmo É O ATOR . Quer dizer... é, mas non é, entende?
Se você acha estranho o Pelé atuando, imagina o Pelé sendo DUBLADO por uno ator conhecido? Pois bem, Milton Gonçalves dubla Pelé neste filme, o que deixa a cosa toda mais bizarra ainda. Pelé dublado já é muito estranho, que o diga quem já assistiu "Fuga para a vitória" em português. Imagina entao Pelé dublado por uma voz bastante conhecida? E isso ainda é o menos bizarro deste filme.
A saber, Pelé é Pedro Mico, um malandro do morro que é chamado para participar de uno esquema grande para furtar as jóias de uno sheik árabe, para que assim ele contrate os serviços de segurança do homem que planejou o assalto (Leon Goldman, interpretado por Jorge Cherques).
O morro onde Mico habita é típico de uno"favela movie" (Estamos em 1985, ano em que este conceito ainda nem existia). Tem o bambino esperto, que presta favores ao herói (no caso é o cunhado de Pedro Mico), tem o "paraíba corno e X9" (lembra do personagem de Gero Camilo em "Cidade de Deus"? Neste filme, quem faz as vezes é Lutero Luiz), tem as mulatas e tem até uno "estuprador de estimação da favela", que comete seus crimes à luz do dia com a mesma naturalidade de quem toma una cerveja gelada no calor.
Tiozão letra C do "Testes de Macho"
Inclusive, é o estuprador o responsável por una das cenas mais bizarras e desnecessárias do filme. Enquanto faz una de suas vítimas no sopé do morro, é surpreendido por uno helicóptero ao som de "A Cavalgada das Walkírias" (SÉRIO!) e começa a trocar tiros com a poliziaCOMO SE UNO FOSSE CAPAZ DE ACERTAR O OTRO A UNA DISTÂNCIA TÃO GRANDE! DIO SANTO!
Por falar em sopé do morro, é lá que fica o barraco do Pedro Mico. Se ele abre a janela e cospe para baixo, o cuspe leva mais de uma hora até chegar no asfalto, no entanto ele non tem do que reclamar, pois sua morada foi PROJETADA PELO OSCAR NIEMEYER.
Repara bem nos créditos
Além de ter o barraco projetado pelo Niemayer, Pedro Mico é sagaz. Entra disfarçado de técnico da companhia telefônica no hotel onde o sheik está hospedado e enquanto o árabe se distrai com duas mulheres, ele usa una chave mestra para abrir a gaveta onde estão as jóias do comedor de esfiha. Conforme o combinado, Pedro Mico deveria, assim que pegasse as jóias, entrar no carro com otros comparsas e encontrar com o anão (!!!) de alcunha "Gigante", que o convocou para o roubo, e assim dividirem o ganho, mas Mico resolve dar una de "Jackie Brown" e fugir com as jóias.
Aliás a cena em que o "Gigante" comunica a "merda" ao seu patrão é hilária!
O crioulo filho da put... quer dizer, o cavalo fugiu com o prêmio!
Assim como acontece com "Jackie Brown", Mico passa a ser perseguido non só pelos próprios comparsas, mas também pela polizia, no caso Jorge Dória, Ivan Cândido, Átila Iório e Felipe Wagner, todos atores que já trabalharam com "Os Trapalhões", aliás, difícil é achar alguém, em qualquer filme dos anni 80 que NON tenha trabalhado com o quarteto. Até o próprio Pelé fez filme com eles.
Só que ao contrário da "malandrona americana", Pedro Mico non sabe ler. A cena em que sua mulher tenta ler a manchete de jornal a respeito do roubo ao sheik consegue ser mais engraçada que a do Chaves lendo para o Seu Madruga!
"Quê que a mãe de vocês faz que não ensina vocês a ler?" "O mesmo que a tua!" "Olha aqui moleque, não quero folga comigo não!"
Otra sequência bizarra é a da prisão e posterior tortura do anão Gigante. Vale lembrar que o filme é de 1985, primeiro ano da abertura política no país, portanto nada mais traumatizante que mostrar una cena de tortura em uno filme (embora a gente saiba que esse tipo de cosa ainda existe). Non bastasse isso ainda vemos uno retrato do Figueiredo atrás da mesa do delegado Portela (Jorge Dória).
Até o anão deve ter feito filme com o Didi Mocó
Paralela a história de Mico, há também a história de Cida (Tereza Rachel, mulher do diretor Ipojuca Pontes, mais conhecida como a rainha de Avilan em "Que rei sou eu?"), prostituta vinda das Alagoas, que non consegue bancar o aluguel e que acaba cruzando com Pedro em uno bar quando foge do poliziaTorquato (Felipe Wagner), que acaba sendo facilmente desarmado e toma unas porradas do malandro.
Tô chegando na COHAB/Pra curtir minha galera...
Apesar de apanhar só na cabeça, quando aparece novamente em cena, o tira está todo enfaixado em una cama do Hospital Miguel Couto (na verdade uno quarto qualquer, que podia ser de qualquer hospital) contando para os demais polizias que foi atacado por uno malandro chamado Pedro Mico, que mora no Cantagalo, segundo o dono do bar, coincidentemente o mesmo nome dito pelo anão na sessão de tortura.
Aliás, se eu fosse diretor do Miguel Couto, iria pagar para NON aparecer nesse filme. Além do filme ser ruim que dói, dá a impressão de que o hospital é o menos seguro do mundo, pois além da polizia, também os bandidos entram facilmente no quarto de Torquato e o torturam a fim de descobrirem informações sobre Pedro Mico (o anão escuta o nome do negão durante o telefonema dos tiras e avisa os comparsas)
Pedro leva Cida para o barraco, pois descobre que ela sabe ler e quer que ela leia para ele a matéria no jornal sobre o roubo. Logo põe ela como "titular" e expulsa sua mulher de lá (decisão que lhe custará caro depois). Non bastasse isso, Pedro Mico faz de conta que Cida está abarrotada e passa o ferro na véia!
Vamos ver se o Pelé põe isso na biografia
Os polizias sobem o morro atrás do paraíba X9, para ver se conseguem informações sobre Mico. Como Pedro vivia cantando sua mulata, o nordestino non pensa duas vezes em apontar Zemélio (!!!), o cunhado do malandro como fonte certeira para chegar ao negão. O bambino non abre o bico, em compensação, sua irmã corna dá todo o serviço para os canas (eu non disse no parágrafo anterior que Pedro ia se dar mal por trocar de mulher?)
Roubou a macaca do Sheik
O tema principal do filme (baseado em una peça muito boa, escrita por Antônio Callado e que merecia adaptação melhor para o cinema) acaba sendo a traição. Coisa-ruim, estuprador da favela, trai a confiança de Pedro e ataca sua esposa. Leon Goldman trai a confiança do seu hóspede árabe e tenta roubá-lo, Pedro trai seus comparsas e sua esposa. Ele conta à Cida a história de Mauro Guerra, famoso ladrão da Mangueira, que foi traído por uno de seus capangas e foi preso e ela devolve contando a história de Zumbi dos Palmares, que também foi traído por uno dos seus e se jogou do morro para non ser pego pelos bandeirantes (atenção nessa parte). Segundo Cida, ele morre de carne, mas non morre de espírito, pois continua aparecendo para os senhores de engenho à noite.
Pelé manja dos paranauê
Pedro e Cida se veem cercados por polizia e bandidos. Eis que Pedro engana a todos fazendo os pensar que se jogou do precipício para poder fugir com Cida.
Ráááá!!! pegadinha do Pelé, entende?
Infelizmente (ou será felizmente?) com o fim do Megaupload, a cópia mais fácil de se encontrar do filme está incompleta, se encerrando no momento em que a polizia chega ao barraco de Pedro, porém como o filme é baseado na peça, o seu final non é segredo.
O filme é tão ruim, que depois dele Pelé nunca mais foi protagonista de filme nenhum (em "Trapalhões e o Rei do Futebol" ele é coadjuvante, além de que, os dois filmes devem ter sido rodados no mesmo ano). Sua maior contribuição foi ter servido de base para a sequência de "Ninja do Gueto", cuja primeira versão vocês viram aqui.
Cotação: 4/10 cabeças de cavalo: É melhor ouvir o Chaves reclamando do que ver esse filme do Pelé.
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